segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Basta de dogmas!

De alguns meses para cá, tenho percebido na Residência Universitária Alagoana (RUA) um tipo de encontro que tem chamado minha atenção. Trata-se de encontros de oração.

É sabido que esta casa nunca foi um terreno sólido para a proliferação do conhecimento científico, filosófico e artístico. E, más notícias para os livres pensadores, a RUA tem se transformado cada vez mais num local onde os dogmas, as crenças, o comodismo e o conformismo tem lugar de honra; lugar este que deveria ser ocupado por grupos para discutir questões da vida aqui, neste planeta, neste momento, nesta vida.

Sinto informar, mas tudo indica que não há outra vida depois desta. Existe vida após a morte? Esta dúvida existencial clássica nos atormenta. Você já parou pra pensar bem sobre isso? Você acha mesmo que somos filhos de um ser superior, o chefe do universo, que, num momento de tédio achou de criar seres como jibóias, mamutes, sardinhas e crianças?

O fato de não sabermos quem ou o quê originou a vida não quer dizer que podemos sair criando hipóteses para explicar o que não conseguimos. Ou melhor, podemos criá-las, mas, francamente, pensemos em hipóteses menos ilusórias, menos sonhadoras.



E se estivermos sós no universo? E se não houver mesmo nenhum deus nos esperando no além? E se esta vida se encerrar por aqui mesmo? E se o deus da bíblia for fruto de sonhos de nossos antepassados que não dispunham de formas mais confiáveis de conhecer o mundo?

A Universidade, na minha visão, deveria ser um lugar para se viver a dúvida, a critica, a busca do conhecimento sem ilusões. Infelizmente, o constante movimento de grupos de oração nessa casa traz muita perplexidade. Ora, crenças e dogmas tem mais valor para a maioria desta casa do que filosofia, ciência e arte?! Pra quê gastar tempo rezando para uma entidade que, se existir, quer que encostemos nossos joelhos no chão, sejamos humildes e façamos orações para agradecer por suas bondades e para solicitar um lugarzinho bom quando partirmos desta vida?

A vida é uma só. E isso não é limitação de raciocínio. O que leva você a pensar que existe coisas espirituais, mágicas, fantasmas, anjos, duendes?

A religião aprisiona, trancafia nosso raciocínio, estrangula nossa percepção, mata a ousadia. O cristianismo, para falar de algo que está entranhado no Brasil, não é o mocinho, é o vilão! Estamos cercados de igrejas! Em Alagoas, um dos estados brasileiros mais cruéis de se viver – quando não se é um privilegiado econômico – o governo financia a restauração da catedral metropolitana. Ora, isto não deveria ser custeado com o dinheiro do dízimo e das ofertas de quem freqüenta aquele templo, ou do suporte do Vaticano ou algo que o valha?

Tudo que é bom é “graças a Deus”. “Meu pai teve dez filhos; e eu sou o único, graças a Deus, que consegui ter um curso superior”. Pergunto: e os outros nove? Deus não gosta deles?

Sei que estas palavras vão chocar algumas pessoas – para não dizer a maioria da casa. Isto é, se a primeira pessoa que ler não rasgar e jogar no lixo este desabafo.


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Este texto de minha autoria foi posto numa área de grande visibilidade da RUA, e teve um curto período de vida: dois dias. Em geral os cartazes de eventos religiosos e demais comunicações ficam por semanas naquele local. A RUA abriga estudantes dos mais variados cursos da Universidade Federal de Alagoas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Malacada e Pauline Alencar no Orákulo!


sexta-feira, 29 de maio de 2009

a carne

Caros leitores,

seguindo meu intuito de publicar neste blog ao menos um texto por mês, é chegado o momento, no finzinho do segundo tempo, de escrever.

É... posso contar um pouco do que vivi neste tempo sem postagem.

Instalei o Linux Ubuntu no PC, e por causa dele atrasei minha vida virtual. O sistema é forte, seguro, leve e livre, mas para concorrer com o Windows ainda acho que há muito chão.

Este ano tomei como meta me aprofundar nos estudos do meu instrumento musical, o cavaquinho (ou cavaco, como queiram). Estou estudando com Wellington Pinheiro, um cara que até com Yamandu Costa já tocou. E pra tocar com Yamandu não é qualquer Chimbinha, viu? O método utilizado nas aulas tem sido a tablatura, para aumentar meu repertório "solístico". A tablatura funciona de uma maneira muito diferente da partitura, vez que nesta não há necessidade de se conhecer previamente a peça a ser executada. Não sei se existe uma tablatura padrão, com códigos específicos para indicar os elementos. É uma bom pretexto para uma pesquisa.

Continuo estudando Comunicação Social. Acredito que boa parte dos estudantes do curso tem uma mentalidade de ensino médio, por assim dizer. Isto porque não vejo muita movimentação na busca de extensão e pesquisa nem participação maciça nas lutas políticas ou filosóficas. Enfim, muitos não se sentem produtores de conhecimento, ainda estão no "esquema de escola, cinema, clube e televisão" (Renato Russo). Vejo pessoas conversando e olhando orkut e MSN durante as aulas. Vejo professores se degladiando, capricho de egos inflados. Vejo servidores técnicos desmotivados, sem sentido... E agora veio a chuva, alagando toda inércia daquele bloco. Será que acordaremos desta vez?

Comprei um livro intitulado O Vazio da Máquina, de Andŕe Cancian. O autor é de Catanduva, São Paulo. Ele mantém um site (ateus.net) com textos que acompanho desde minha adolescência. O Vazio da Máquina é um soco no estômago de quem se acha muito importante por ser gente.

O chorinho do Grupo Confraria Alagoana do Choro, no Orákulo, outra vez me surpreendeu. Se pudesse iria todos os sábados. Já dei uma canja lá, a convite do meu professor Wellington. O nível dos músicos é elevado. Eles tocam todos os sábados, há oito anos, caminhando para nove. Isso é que é sucesso! Mas infelizmente Maceió ainda não consegue ser um centro artístico de criação e divulgação. Por isso, as músicas tocadas pelo Confraria Alagoana do Choro são as distribuídas pelo eixo Rio-São Paulo.

Como neste texto há música e comunicação, mato dois coelhos numa cajadada só e o publico em meus dois blogs.

Sempre lembrando que “a carne mais barata do mercado é a carne negra” (Seu Jorge, Marcelo Yuca E Wilson Capellette)!

domingo, 19 de abril de 2009

O QUE HÁ DE BOM NA TV?

A televisão está presente de forma maciça nos lares de todo o planeta Terra. Já virou praxe um pai de família chegar do trabalho e ligar o aparelho para acompanhar um telejornal ou uma telenovela, assim como as donas de casa gastam uma grande quantidade de horas assistindo a programas de culinária e seriados. As crianças não escapam das teias da TV, sendo bombardeadas todos os dias com dezenas de anúncios publicitários e desenhos animados com temática violenta. Por isto é preciso uma reflexão crítica sobre a televisão.

Para Pierre Bourdieu, a televisão provoca uma “despolitização trágica”, além de promover uma lavagem cerebral e de ser um instrumento antidemocrático. E, quando analisamos atentamente os canais de TV aberta no Brasil, por exemplo, observamos que Bourdieu está com a razão. Canais de grande audiência, como Globo, Record e Band, trazem na sua grade telenovelas nas quais encontramos preconceito, hipocrisia e futilidade, que gera despolitização na sociedade. A lavagem cerebral se dá nos programas de auditório, onde desfilam apresentadores e “especialistas” nos mais diversos assuntos que ditam o modo de viver. A televisão é um instrumento antidemocrático por que não permite a manifestação de um número grande de vozes da sociedade organizada.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

RESENHA - MERA COINCIDÊNCIA

O filme Mera Coincidência, dirigido por Barry Levinson e estrelado por Robert de Niro e Dustin Hoffman, é uma ficção que traz a história de uma disputa eleitoral nos Estado Unidos, na qual o atual presidente é o favorito para a reeleição. Poucos dias antes do pleito, surge um escândalo sexual envolvendo o presidente. Logo, sua primeira assessora, Winifred Ames (interpretada por Anne Heche), precisa arrumar a situação para que o presidente não perca as eleições.

Ames chama um dos grandes profissionais de marketing, Conrad Bream (Robert De Niro), para lhe ajudar na missão. A solução a que chegaram é que deviam criar uma guerra, para poder desviar a atenção da mídia e dos cidadãos do escândalo sexual até o dia das eleições.

Aí começa toda a graça do filme, pois, depois de algumas idéias, surge a de criar uma guerra contra a Albânia, por mais que na realidade nenhum albanês sequer estivesse sendo hostil aos americanos. Para produzir esta mentira, chama-se um produtor de Hollywood, Stanley Moss, interpretado por Dustin Hoffman.

Muito interessante ver como as mentiras vão sendo inventadas, sem nenhum pudor, na intenção de fabricar a guerra contra a Albânia. Por mais que as dificuldades surjam, os personagens sempre encontram uma forma de inventar outra mentira e assim fazer com que tudo permaneça na mais pura verdade.

Há uma cena marcante, filmada num estúdio, de uma moça americana, fazendo as vezes de uma albanesa, correndo em apuros, como se fosse uma refugiada de guerra. Depois os produtores editam as imagens, colocando prédios em ruínas, pontes destruídas, fumaça, e tudo o que faça lembrar uma guerra.

O personagem de De Niro, o super marketeiro, sempre diz que o que passa na televisão é verdade, por mais que ele próprio seja o idealizador das mentiras. Mas sempre diz: “Deu na TV”. É aí que se encontra o ponto chave do filme, a discussão que pode haver entre a realidade concreta e a realidade criada pela mídia.

Existe uma teoria que afirma piamente que o homem não foi à lua. Segundo este pensamento, tudo foi criação em estúdio dos americanos, para sair na frente na corrida espacial ante a União Soviética. Nesta comédia Mera Coincidência, vemos a possibilidade de se criar uma verdadeira guerra, com direito a herói de guerra, refugiados, bombas, fogo, e o principal, a veiculação da guerra pela mídia. No filme, de nada adiantava criar todas as mentiras se estas não fossem veiculadas nos grandes meios de comunicação.

Se o homem foi à lua? Agora fica difícil de saber.

FICHA TÉCNICA:

MERA COINCIDÊNCIA

Título Original: Wag the Dog
País de Origem: EUA
Ano: 1997
Duração: 97min
Diretor: Barry Levinson.
Elenco: Robert De Niro, Dustin Hoffman e Anne Heche.

(FONTE DA FICHA TÉCNICA: http://www.terra.com.br/cinema/comedia/wagthedog.htm)

sexta-feira, 13 de março de 2009

Tinham várias índias no meio do caminho!

Enviei a seguinte mensagem para meu querido professor José Edson Falcão:
"Caro Professor José Edson,
   Segue anexo texto para que o senhor analise a possibilidade de publicá-lo na AUN.
   A propósito, como o senhor está acompanhando a novela da Globo que fala sobre a Índia?
   Abraço!

Salomão Miranda"

A pergunta sobre "Caminho das Índias" se deve ao fato do professor Edson Falcão ser hinduísta e grande conhecedor da cultura indiana. Estava esperando uma resposta curta, mas leiam a "aula", editada para melhor entendimento geral:

"Caro Salomão,
 
É um prazer falar com vc e veicular seus trabalhos jornalísticos - isto enquanto ainda for aluno. O seu texto vai entrar ainda hoje como "comentário" na AUN [Agência Universitária de Notícias (www.ichca.ufal.br/aun)].
 
Quanto à novela Caminhos da Índia, estou acompanhando sim. Acho importante porque enfoca o Hinduísmo, que é o meu Sanatana-Dharma (não usamos a palavra religião, porque religião significa religar - do Latin religare). Entendem os Grandes Mestres Espirituais que nunca houve, em um tempo algum, rompimento do vínculo entre a divindade criadora (Brahman) e a criatura (Jiva - que é a alma imortal). Sempre que há perigo desse rompimento, um Avatar (encarnação divinda - a exemplo de Bhuda, Jesus, Alah, etc) descende ao mundo material (não só à Terra, mas todo o universo manifesto criado pelo Senhor Bhahma) para revitalizar essa relação.
 
É claro que há muitos equívos na novela, mas que não chegam a desvirtuar o conceito de Hinduísmo, os quais apontá-los somente o faria num encontro pessoal. Um deles é como está sendo enfocado o sistema de castas -brahmanaskshatriyasvaishyas e os shudras - como se não houvesse reação da intelectualidade indiana a ele. Enfim, a modernidade, com a Globalização, também chegou à "Grande Bharata", como os indianos denominam sua pátria.
 
Na Índia, existem três correntes do Hinduísmo: o brahmanismo, o vaishnavismo e o shivaísmo. São três maneiras de se relacionar com a Divindade, baseado em seus três aspectos (conhecido como Trimurti): o Deus Criador (Brahma), o Deus Perpetuador da Criação (Vishnu - que representa o Pai Eterno na Trindade Cristã) e o Deus Destruidor (Shiva). Na verdade não são três Deuses, porém Um, adorado em seus três aspectos, por si só o responsavel pela criação do mundo material e espiritual, por sua preservação e destruição (toda matéria tem seu fim, menos a alma imortal, Jiva, que sempre existiu em sua individualidade e existirá eternamente). Portanto, 1 bilhão e 100 milhões de hinduístas na Índia se dividem entre essas três correntes mencionadas - o restante 100  milhões são adeptos das religiões surfis, islâmicas, cristãs, budistas, sirkhis, etc. Os conceitos filosóficos-dhármicos são os memos, todos baseados nos preceitos védios, que é a base na qual se estruturou a sociedade indiana até os dias de hoje.
 
A Rede Globo produziu Estrela Guia (folhetim das 19h) - você lembra, protagonizada por Sandi, num dos papéis principais? Nessa novela, foi abordado o aspecto vishuísta do Hinduísmo (com o qual me identifico, como brahmana vaishnava que sou), ou seja, os ícones, os mantras cantados, os rituais devocionais (danças e cerimônias), os personagens foram calcados nessa segunda corrente hinduísta.
 
Já na atual Caminhos  da Índia, a produção não quis repetir a fórmula (penso eu) e, por isso, Glória Perez traz na sua trama personagens e famílias que são shivaístas. Os ícones que mostram são ShivaGanesha (o semideus com cabela de elefante), Kali, Dhurga, etc. Respeitamos, porém, todas essas divindades (eu até as tenho em meu altar), até porque Shiva é o protetor dos nosso templos; Ganesha (filho de Shiva e Pavarti), é a encarnação literária da Divindade: ouvindo de um sábio a narrativa do Mahabharata (a grande epopéia indiana na qual se encontra a "bíblia indiana", o Bhagavad-Gita, que significa "A Canção do Senhor") ele o compilou em sânscrito (idioma principal da Índia do qual se derivam vários outros idiomas e dialetos, mãe de todas as linguas indoeuropéias) há 5.000.
 
É isso, meu caro Salomão. Procurei sintetizar o que acho da novela atendendo à sua solicitação. Nada é perfeito, mas no aspecto cultural ela dá uma grande contribuição ao brasileiro e a outros povos em cujos países Caminho das Índias será distribuído pela Globo, que não conhecem o Hinduísmo. Mesmo com algumas distorções...
 
Já enviei pra vc e volto a enviar o endereço do site de nosso preceptor em São Paulo, Bhuvana Mohanda, com o qual vc poderá fazer questionamentos sobre a cultura védica (e falar até da novela - ele já a aborda com relação às cremações), e no qual vc tem logo abaixo, na página inicial, dois links: um para o nosso math no Brasil (é escrito em portugês) e outro para o Sri Caitanya Sarasvat Math na Índia (site em inglês), onde mora o nosso Guru Srila Govinda Maharaj. Vale a pena vc acessar, como jornalista que já é e como amante da cultura em geral. É um mundo de sensações, cores e sons incríveis! Trata-se do www.bhuvana.com.br/. Acesse-o e confira.
 
Grato pela mensagem.
 
E um afetuoso abraço do seu amigo,
 
Edson Falcão"

Muito obrigado professor!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ANÁLISE ÉTICA DE UM PROGRAMA DE TV

A ética é sempre um tema recorrente nas discussões que envolvem a mídia. Jornalistas, leitores, telespectadores e estudiosos em geral se debruçam em livros e nas discussões concernentes à ética midiática. Infelizmente, não há um senso crítico tal que faça com que a programação de rádio e televisão e notícias de jornal e internet, com caráter marcadamente antiético, sejam censuradas e banidas devido à pressão popular. Pelo contrário, o que há é a própria população consumindo os produtos da mídia com um senso crítico embotado, que por vezes se manifesta apenas nas superficialidades.

Mas a situação pode ser alterada se a educação voltada para a formação do homem ético seja ampliada ou iniciada. Para tanto acreditamos que este trabalho possa contribuir de alguma maneira, com a análise ética de um programa da TV BAND, do Grupo Bandeirantes de Comunicação. O programa se chama CQC – CUSTE O QUE CUSTAR, e é exibido em dois horários na referida emissora aberta: segundas-feiras, a partir das 22 horas, e sábados, a partir das 20 horas e 15 minutos.

O CQC é um formato de programa importado da Argentina. Estreou no Brasil este ano e possui o seguinte texto de apresentação em seu site:

"Sucesso em países como Espanha, Itália e Argentina, o CQC é um programa jornalístico irreverente, com uma equipe que pergunta aquilo que você sempre quis perguntar a um político ou a uma celebridade, mas nunca teve cara-de-pau e chance para isso.
As saias-justas, o silêncio que fala por si só e as crises de gagueira aguda dos entrevistados serão o foco desses verdadeiros homens de preto, que só precisarão de um microfone e seus óculos para invadirem as suas noites com o verdadeiro humor inteligente." (http://www.band.com.br/cqc)

É possível encontrar todas as matérias do programa em seu site oficial, à página http://www.band.com.br/cqc. O CQC está dividido nos seguintes quadros: Top Five, Repórter Egocêntrico, Proteste Já, Repórter Inexperiente e CQTeste, além de matérias diversas, como a cobertura humorística de um prêmio de música, uma cúpula de governantes ou um lançamento de filme pornográfico ou peça teatral.

O Top Five apresenta os cinco piores momentos da televisão brasileira, eleitos pelo CQC, na última semana antes do programa ir ao ar. Cenas como: “freira faz embaixadinha e chuta bola na câmera”, “ex-sargento muda de sexo” e “Kleber Machado volta a filosofar”.
No Repórter Egocêntrico, o repórter fala mais que o entrevistado e fica falando sobre sua própria vida.

O quadro Proteste Já é o serviço de utilidade pública do CQC. Os repórteres já foram responsáveis por denunciar descasos com deficientes físicos, investigar superfaturamento em prefeitura e o descaso com a coleta das fezes de cachorro em São Paulo.

O Repórter Inexperiente entrevista as celebridades de uma forma muito peculiar. Fingindo ser do interior e estar fazendo a entrevista como trabalho de faculdade, o repórter Danilo Gentili entrevista nomes como Agnaldo Timóteo, Leão Lobo e José Luiz Datena, de forma desengonçada, com pouco conhecimento sobre o entrevistado e aparentando estar muito nervoso.

CQTeste é um jogo de perguntas e respostas no qual uma celebridade por semana participa. Já jogaram Nando Reis, Pámela Butt, Zé do Caixão, Agnaldo Timóteo, Neguinho da Beija-Flor e outras personalidades, que ao final do teste fazem parte de um ranking das celebridades mais inteligentes.

A missão agora será a de analisar eticamente o programa de televisão CQC – Custe o que custar. Utilizaremos o Código de Ética dos Jornalistas como base para a análise.

O primeiro capítulo do Código de Ética trata do direito à informação. Iniciaremos a análise do CQC com o artigo 2º, que reza:

“Art. 2º Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse, razão por que:
I – a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente de sua natureza jurídica – se pública, estatal ou privada – e da linha política de seus proprietários e/ou diretores.
II – a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público.
III – a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão.
IV – a prestação de informações pelas organizações públicas e privadas, incluindo as não-governamentais, é uma obrigação social”.

Com relação a este artigo, o CQC cumpre seu papel de divulgar informações de interesse público com o quadro Proteste Já, onde acontecem investigações e denúncias. Foi o caso da ida do repórter Rafinha Bastos à cidade de Mairiporã para investigar o superfaturamento na merenda escolar comprada pela prefeitura. Rafinha Bastos conversou com vereadores da cidade em questão, que informaram os preços praticados pela prefeitura municipal. Os vereadores apresentaram documentos mostrando a compra de produtos para a merenda escolar com superfaturamento de até 70% entre o preço praticado no mercado no varejo e o preço que o prefeito pagou no atacado. Rafinha Bastos seguiu conversando com os vereadores e foi até a casa do prefeito, que fica num andar superior de um supermercado onde os preços são mais baratos do que os da prefeitura.

O repórter foi mal recebido por funcionários da prefeitura, os quais tentaram intimidar com ofensas verbais e ameaças de agressão física ao jornalista. Rafinha Bastos foi recebida por Edlene Aparecida, secretária adjunta de educação e cultura da prefeitura de Mairiporã, que não conseguiu explicar com clareza e convicção os preços superfaturados da compra de merenda de Mairiporã. Na primeira tentativa, Rafinha Bastos não conseguiu ter acesso ao prefeito, entretanto falou em megafone na porta da casa deste, bradando para que o administrador municipal prestasse mais atenção aos preços da merenda. Algumas semanas depois a produção do CQC voltou a Mairiporã e conseguiu falar com o prefeito, que não conseguiu convencer com as explicações concedidas. A matéria termina e Rafinha Bastos apresenta um documento do Ministério Público mostrando que o programa pediu uma investigação formal do caso.
Desta feita, o quadro Proteste Já cumpre o supracitado no código de ética, uma vez que se pautou pelo interesse público.

Entretanto, houve uma entrevista do jogador de futebol Ronaldo apresentada no CQC que fugiu ao Código de Ética dos Jornalistas. Vamos ao artigo 12:

Art. 12. O jornalista deve:
V – rejeitar alterações nas imagens captadas que deturpem a realidade, sempre informando ao público o eventual uso de recursos de fotomontagem, edição de imagem, reconstituição de áudio ou quaisquer outras manipulações;

A entrevista exibida no programa que violou este inciso se deu da seguinte maneira: Ronaldo concedeu uma entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, falando a respeito de seu envolvimento com travestis no Rio de Janeiro. Marcelo Taz, apresentador do CQC, anunciou na segunda-feira, dia em que o programa é exibido ao vivo, que Ronaldo havia concedido uma entrevista exclusiva ao CQC. Quando a entrevista foi ao ar, percebemos que era a mesma exibida pelo Fantástico. Foi feita uma montagem na qual Marcelo Taz parecia mesmo estar na casa do jogador de futebol conversando com ele, só que, por se tratar de uma edição, as perguntas feitas por Taz eram respondidas de uma maneira totalmente diferente do contexto original. O CQC não avisou que a entrevista era uma montagem, o que causou dúvidas sobre a veracidade das informações.

Não houve respeito com a figura de Ronaldo, pois a matéria humorística colocou Ronaldo como alvo de chacota, violando o inciso III do código de ética: “tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar”.

O Código de Ética dos Jornalistas é desrespeitado todos os dias em nosso país. Há quadros e programas humorísticos, como o Sorria, você tá na Record e Pânico na tv, que ridicularizam as pessoas, expondo suas intimidades ou fazendo brincadeiras bizarras nas ruas das cidades.
Fazer humor não parece ser tarefa fácil. Porém não podemos permitir que as emissoras de televisão façam uso do jogo baixo para aumentar seus faturamentos.
O programa tratado neste trabalho, o humorístico CQC, parece ser uma alternativa ao lixo produzido cotidianamente na televisão. O CQC tem a vocação para ser um humor inteligente de fato. Por isto os elogios e as críticas escritas aqui para o programa devem servir para uma reflexão a fim de torná-lo o mais próximo possível do Código de Ética.